Folha de SP – O grupo político remanescente do ex-governador Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), ensaia um rompimento definitivo com o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB).
O esgarçamento da relação, que se aprofundou nas últimas semanas, passa por tensões no campo político, embates na esfera judicial em ações movidas no STF e até mesmo querelas pessoais. Aliados de ambos falam em clima pesado e não descartam a possibilidade de um rompimento.
Dino foi governador do Maranhão de janeiro de 2015 a abril de 2022, quando renunciou para concorrer ao Senado pelo PSB. Carlos Brandão, então vice-governador, ascendeu ao cargo e foi reeleito há dois anos.
Eleito senador em 2022, Dino ocupou o Ministério da Justiça no governo Lula (PT), foi nomeado para o STF e tomou posse em fevereiro. Desde então, afastou-se da política partidária, mas segue com um grupo de aliados coeso no Maranhão.
Os embates entre Brandão e Dino começaram em fevereiro de 2023, na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão. O então ministro trabalhou pelo aliado Othelino Neto, na época no PC do B e hoje no Solidariedade, mas prevaleceu a deputada Iracema Vale (PSB), bancada pelo governador.
Desde então, ambos deram sinais de afastamento, com embates nos bastidores e raros encontros em solenidades públicas. Segundo aliados, os diálogos em geral aconteciam por meio de intermediários.
Na avaliação dos aliados de Dino, Brandão afastou-se do campo da esquerda ao se aproximar de setores conservadores, sendo apoiado inclusive pelo PL de Jair Bolsonaro. Também há acusações de descumprimento de acordos e de críticas à nomeação de parentes do governador em cargos no governo.
Uma ação de inconstitucionalidade movida pelo Solidariedade, sigla de Othelino, questionou a nomeação de 14 parentes de Brandão. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, acatou parcialmente a ação em outubro e determinou o afastamento de cinco nomeados pelo governador.
Aliados de Brandão, por sua vez, acusam Dino de interferir na política local mesmo após ascender a uma cadeira no STF. Um dos exemplos citados é a decisão, dias após sua posse no STF, que suspendeu o processo de escolha do conselheiro para uma vaga aberta no Tribunal de Contas do Estado.
A ação foi movida pelo Solidariedade, legenda de Othelino Neto, que rompeu com Brandão em março deste ano. Ele é marido da senadora Ana Paula Lobato (PDT), que assumiu o cargo após a renúncia de Dino para assumir a vaga no STF.
Othelino nega qualquer interferência do ministro da política maranhense: “Não há influência nenhuma. Pelo contrário, a saída de Flávio da política de forma repentina deixou um hiato que só o tempo vai resolver”.
Nesta semana, as desavenças escalaram após vir a público a informação de que Dino não convidou Brandão para a sua cerimônia de casamento no próximo sábado (30) com Daniela Lima, com quem vive em união estável desde 2011. A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles e confirmada pela Folha.
Conforme afirmam aliados de Dino, o ministro tem perfil discreto em sua vida pessoal e fará uma cerimônia restrita aos amigos. A avaliação é que, apesar do histórico de relação política, Brandão não tem uma relação próxima no campo pessoal com o ministro.
O episódio ganhou repercussão duas semanas após aliados de Dino e de Brandão travarem uma nova e renhida disputa pela presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão. Iracema Vale e Othelino Neto se enfrentaram e a eleição terminou empatada, com 21 votos para cada.
Prevaleceu a regra do regimento interno da Assembleia que prevê que, em casos de empate, é eleito o deputado mais velho. O resultado foi a reeleição de Iracema Vale, dando novo impulso ao grupo do governador na queda de braço com os aliados do seu antecessor.
A decisão foi contestada no STF movida pelo partido Solidariedade, que defende a aplicação da regra prevista na Câmara dos Deputados, na qual eleito em caso de empate é o deputado com mais mandatos –regra que beneficiaria Othelino. Caberá à ministra Cármen Lúcia julgar o recurso.
Em entrevista, Iracema Vale afirmou que o empate na votação na Assembleia foi resultado de “fortes influências externas”, mas não fez referências ao ministro do STF.
Nas votações abertas de projetos na Assembleia Legislativa, deputados mais próximos a Dino têm se posicionado contra o governador. Foi o caso do recente projeto que ajustou a alíquota do ICMS, que teve oposição de nove deputados, incluindo nomes próximos ao ministro como Othelino Neto, Carlos Lula (PSB) e Rodrigo Lago (PC do B).
A sucessão ade 2026 é o principal pano de fundo da disputa. Aliados de Dino afirmam que haveria um acordo no qual Brandão renunciaria para disputar o Senado em 2026, fazendo ascender ao cargo o vice-governador Felipe Camarão (PT), nome próximo ao ministro e que poderia tentar a reeleição.
Brandão, contudo, afirmou publicamente ao menos duas vezes que pretende cumprir integralmente o seu mandato até o fim de 2026, o que inviabilizaria as pretensões do petista de assumir ao governo.
Nos bastidores, dois nomes são apontados como possíveis candidatos da base em caso de ruptura: a deputada Iracema Vale e o secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), sobrinho do governador.
Do lado dos aliados de Flávio Dino, o candidato natural é o vice-governador. Mas uma das opções na mesa seria o apoio a uma possível candidatura do prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), que construiu sua trajetória política na oposição aos governos Dino e Brandão.